Patrimônio
A destruição da nossa história
Depois de quatro peças de chafarizes serem furtadas, placa de José Bonifácio também desaparece
Em 2018, o conjunto histórico pelotense foi declarado patrimônio nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Apesar da importância dada ao Centro Histórico de Pelotas, o furto de peças que constituem os monumentos é uma prática que está se tornando comum. Em fevereiro deste ano, o Chafariz das Três Meninas, situado no encontro do calçadão da Andrade Neves com a rua 7 de Setembro, e a Fonte das Nereidas, símbolo da praça Coronel Pedro Osório, tiveram quatro peças retiradas. Agora, a placa que compunha o monumento da estátua de José Bonifácio, na praça da Catedral Metropolitana de São Francisco de Paula, foi arrancada.
Quem passar pela praça José Bonifácio vai, com certeza, notar a falta da placa que integra o monumento em homenagem à figura histórica responsável por dar nome ao local. Uma parte do mármore foi arrancada, deixando os tijolos de sustentação à mostra. No último mês, o Chafariz das Três Meninas teve um dos rostos das quatro mulheres que o circulam retirado, restando apenas ferrugem e um dos canos que costumam lançar água. Já na Praça, cinco placas de ferro foram furtadas da Fonte das Nereidas.
De uns tempos para cá, as ocorrências de furto estão se tornando recorrentes. Por isso, a Secretaria de Cultura (Secult) se preocupa cada vez mais em preservar e cuidar das peças. De acordo com Gisela Frattini, gerente de Memória e Patrimônio, frequentemente se realiza a verificação nos monumentos para apontar possíveis problemas. Se há sinais de vandalismo, como peças soltas indicando um início de retirada, elas são guardadas nas dependências da Secult. A partir daí, os funcionários decidem como devem recolocá-las de forma a resguardá-las com segurança.
A importância da preservação
As estátuas espalhadas pelo espaço público, os casarões e o acervo da Bibliotheca Pública são exemplos de marcos da cidade. A história dos nossos antecessores é contada através deles. É, portanto, a nossa identidade, explica a professora do curso de Conservação e Restauro da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Silvana Bojanoski. A docente também é coordenadora de Patrimônio Cultural e Comunidade da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Prec). De acordo com ela, os roubos e os atos de vandalismo contra peças consideradas históricas podem se dar por dois motivos: pelo valor econômico que elas possuem (são revendidas com um alto preço) ou apenas por depredação.
Daí, a importância da educação patrimonial. Segundo Silvana, é necessário trabalhar fortemente para que todos percebem que se trata de um dano que afeta todos os cidadãos. Um contínuo investimento na educação precisa ser feito nos mais diversos locais, por vários agentes, como o Estado, as escolas, e quem trabalha e estuda com isso. E, principalmente, as boas práticas devem ser divulgadas. Uma praça com boa iluminação, por exemplo, se diferencia das outras. Atrai turistas - uma vez que a cidade se apresenta como um local com boa estrutura a oferecer aos visitantes -, a segurança é intensificada e, consequentemente, o consumo aumenta. A preservação também é benéfica a quem mora aqui, pois garante conforto. “Isso (o patrimônio) não é do outro, é nosso, é da cidade”, ressalta a coordenadora da Prec.
Em fevereiro. Placas e rosto dos chafarizes do Centro Histórico desapareceram (Fotos: carlos Queiros e Paulo Rossi)
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